ADORMECIDA
Imagem de mulher, sobre o próprio sono
recolhida, diriam que ela sorve
algum rumor a nenhum outro igual
que por inteiro a envolve.
Do seu corpo sonoro sonolento
ela suga a luxúria
de manter-se num murmúrio
sob olhares do silencio.
Ó corça: que belo interior
de antigas florestas em teus olhos aflora;
quanta confiança os contorna
misturada a tanto temor.
Tudo isso, trazido pela viva
graciosidade dos teus saltos.
Porem, nunca nada acontece
para esta impossessiva
ignorância de tua face.
Paremos um pouco, conversemos.
Sou ainda eu, esta noite, quem pára.
são ainda vocês que me escutam.
Daqui a pouco outros vão tocar
para os vizinhos na estrada
sob estas belas arvores de que dispomos.
Todas as despedidas estão feitas. Tantas partidas
me formaram lentamente desde o berço.
Mas eu retorno ainda, eu recomeço,
este franco regresso libera minha vista.
O que me resta, é ter de a suprir,
e minha alegria sempre impenitente
de ter amado coisas congruentes
a essas ausências que nos fazem agir.
Rainer Maria Rilke
In: Jardins
Tradução: Fernando Santoro 28/11/09
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